terça-feira, 12 de outubro de 2010

acolhimento reforma psiquiátrica/participação popular


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Quando falamos em saúde mental logo nos remetemos à reforma psiquiátrica, portanto, devemos ter o cuidado de repensar e refletir sobre as nossas práticas de como lidar com o usuário com sofrimento mental, não basta abrir serviços, expandir a rede, se no cotidiano dos serviços de saúde não acontece o acolhimento de forma ampla como forma de humanizar e estreitar a relação profissional/usuário.
O movimento pela Reforma Psiquiátrica tem início no Brasil no final dos anos setenta. Este movimento tinha como bandeira a luta pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O que implicava na superação do modelo anterior, o qual não mais satisfazia a sociedade. (MESQUITA, 2008).
A Reforma Psiquiátrica no Brasil deve ser entendida como um processo político e social complexo, tendo em vista, ser o mesmo uma combinação de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades; no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. (BRASIL, 2005).
Para GONÇALVES (2001), nos últimos cinqüenta anos, em vários países do ocidente ocorreram importantes mudanças na trajetória das políticas de atenção à saúde mental. Tais mudanças desaguaram no movimento de Reforma Psiquiátrica que destaca como principal bandeira, o resgate da cidadania do louco e, por conseguinte, a reconstrução de novos paradigmas teórico-práticos.
Isto implica dizer que, o campo da saúde mental vem experimentando transformações nas práticas assistenciais terapêuticas retirando o eixo de tratamento baseado na estrutura asilar, para a implantação de serviços comunitários, com uma atenção voltada para a reabilitação e a inclusão social das pessoas portadoras de transtornos psíquicos. Tal desafio implica mudanças nas concepções sobre a loucura, a doença e conseqüentemente, sobre o tratamento e a reabilitação. (idem).
Em 1986, a VIII conferencia Nacional de Saúde deliberou pela necessidade de um sistema Único de Saúde, proposta na constituição de 1988, paralelamente, o movimento dos trabalhadores em saúde mental, trouxe além de ecos dos movimentos internacionais, a discussão de reforma.(idem).
Posteriormente, o projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (1990), quem em entre outras medidas previa a extinção progressiva dos hospitais dos psiquiátricos e sua substituição por outros serviços assistenciais denominados de Núcleos de Atenção Psicossocial – NAPS, e Centros de Atenção Psicossocial – CAPS. (idem).
Pensando nisso, nas reuniões da equipe técnica sempre abordei o tema acolhimento, e conforme foi criando o desejo e a curiosidade de saber mais acerca do tema. Realizamos uma reunião especifica sobre acolhimento, utilizei o texto: “ O acolhimento e os processos de trabalho em saúde : o caso Betim, Minas Gerais, Brasil. Merhy, 1999.
Como recurso textual, o tema serviu de embasamento para o desenvolvimento do debate, onde foi possível através da percepção, registrar aqui algumas falas importantes dos profissionais.
Muitas práticas desenvolvidas no CAPS I traduzem mudanças necessárias ao novo modelo de assistência em saúde mental como por ex.: o trabalho é desenvolvido a partir da forma de acolher, de cuidar, de olhar e de sentir o sofrimento psíquico dos portadores de transtornos mental, assistidos no serviço o que tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos mesmos, melhoria da auto-estima , de sua autonomia. Foram identificados alguns entraves como por ex.: a falta de perfil de alguns profissionais que não se identificam com esse serviço, devido a sua formação estritamente técnica ou por desempenhar o papel de profissional assistencialista, alguns dos profissionais da equipe não se identificaram com a temática e relataram que não se identificam com o serviço. Contrapondo-se ao modelo biomédico atual, os profissionais do CAPS, não utilizam fardamentos, nem qualquer tipo de distintivo, as refeições são realizadas ao mesmo tempo e no mesmo refeitório com a utilização de objetos comuns em qualquer residência, o cardápio é diferenciado por ocasião de dieta alimentar; os espaços físicos da instituição são comuns a todos, o acesso aos cômodos, assim como outros assuntos são discutidos e decididos de comum acordo. O trabalho em saúde mental é um serviço/assistência que requer identificação e vinculação dos profissionais ao mesmo, é um serviço onde se trabalha muito a subjetividade e a singularidade de cada usuários, onde os profissionais utilizam mais tecnologias leves como ferramenta promovedora de vínculo e responsabilização. Conforme cita Merhy (2002, p.189), destacamos as tecnologias leves, quais sejam, o acolhimento, a produção de vínculo, a autonomização e a gestão compartilhada de processos de trabalho, como orientadoras das práticas em serviços de Saúde, tendo como enfoque a qualidade de vida dos cidadãos usuários do Sistema de Saúde. Somente será possível uma assistência de melhor qualidade se houver uma mudança significativa tanto nas relações entre profissionais e usuários. Segundo os profissionais do CAPS, o acolhimento perpassa a recepção acolhedora que os usuários recebem no momento de chegada ao CAPS, e se constituem numa ferramenta transformadora das práticas assistenciais do todo e qualquer profissional comprometido com a qualidade de vida de seus clientes. Acredita-se que, a partir do acolhimento é possível criar um vinculo afetivo de respeito, cuidado e responsabilização de suas próprias vidas, aumentando a confiabilidade entre ambas as partes.

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