terça-feira, 12 de outubro de 2010

NOSSA HISTÓRIA




Em Picuí-PB, anterior ao ano de 2006, havia apenas o serviço de dispensação de medicação psicotrópica na rede municipal, após concurso publico municipal, foi criada a coordenação de saúde mental composta por 1 (uma) Psicóloga, 1 (uma) Enfermeira e 1 (uma) farmacêutica bioquímica que fazia a dispensação dos psicotrópicos, havia reuniões semanais com pequenos grupos de usuários com sofrimento mental que passaram a utilizar o serviço com uma maior assiduidade. Após, várias reuniões, chegou-se ao consenso da necessidade de implantar um serviço mais qualificado que pudesse oferecer uma assistência holística aos usuários e pessoas com sofrimento mental, daí então foi feito o projeto e após algum tempo, foi implantado o CAPS 1 de Picuí-PB, tendo suas portas abertas ao público no dia: 05/07/2009, após capacitação da equipe multiprofissional e capacitação de todas as ESFs do município. A gestão municipal teve esse cuidado de implantar o novo serviço fortalecendo o vínculo com a rede de atenção básica a partir de reuniões de capacitações com toda a equipe dos ESFs.
A minha experiência em saúde mental se deu a partir da capacitação com a equipe multiprofissional, pois, não havia trabalhado nessa área da saúde, apenas feito estágio no período de acadêmico de enfermagem no Hospital Psiquiátrico Dr.º Maia em Campina Grande-PB. Habituado com a enfermagem assistencialista que exercia nos serviços hospitalares e na atenção básica, acolhi a proposta como um desafio que posteriormente me trouxe muita realização profissional e pessoal. Pois, na minha trajetória profissional, os novos desafios sempre me inquietaram para fazer algo novo e diferente, ou seja, que a centralização do trabalho terapêutico esteja dirigida na existência Holística do usuário/cliente, pois, o mesmo é o sujeito ativo e não um objeto na relação com a instituição. Contrapondo-se a prática médico privatista centrada no tratamento da doença e não na reabilitação total do individuo que sendo único deve ser tratado respeitando sua singularidade peculiar. Portanto, o acolhimento, necessita adentrar no cenário da minha prática onde o cuidar se faz urgente e emergente, também como forma de humanização.
A humanização encontra-se intimamente ligada à relação de cuidado existente entre o profissional de saúde e a pessoa cuidada, uma vez que segundo a filosogia da palavra, cuidado deriva do Latim Cura que era usada em um contexto de relações de amor e amizade, para expressar a atitude de desvelo, preocupação. Segundo Boff (1999, p.91), “expressa uma atitude fundamental de um modo de ser mediante o qual a pessoa sai de si e centra-se no outro com desvelo e solicitude.”
Segundo Brasil (2004), o acolhimento, como recurso técnico-assistencial, permite mudar os modos de operar a assistência, refletindo a respeito das relações durante o trabalho em saúde. Tais inovações repercutem na forma de organização tanto do processo de trabalho nas equipes, como n a organização das unidades em redes assistenciais, buscando uma aproximação entre a oferta de ações e serviços e as necessidades e demandas da população.
Foi a partir do entendimento dessa necessidade que surgiu minha motivação para a realização deste trabalho, focalizando como uma ferramenta que se bem utilizada pode-se chegar mais próximo daquilo que se idealiza como tratamento qualificado, humanizado e resolutivo uma vez que,

“o acolhimento é a arte de interagir, construir algo em comum, descobrir nossa humanidade mais profunda na relação com os outros e com o mundo natural. E deixar que os outros descubram em nós sua humanidade e o mundo nos mostre sua mostre sua amplitude” (SÃO PAULO, 2002).

MUSICOTERAPIA


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CORAL DO CAPS: musicoterapia



Coordeno o coral “loucos pela música” como proposta de musicoterapia individual e coletiva gerando a inclusão no serviço e participação nas oficinas, trabalho em equipe, a reinserção e ressorcialização dos usuários, bem com elevação da auto-estima dos mesmos, desenvolvimento de suas potencialidades artísticas e culturais. O referido coral é composto por: 30 usuários de ambos os sexos que tem afinidade com a música (gostam de cantar); trata-se de uma característica muito comum entre os usuários com transtornos mentais, essa atividade me completa como pessoa humana, pois sou músico amador (toco violão) e realizo o acolhimento também através da música, pois, a música é uma arte universal e cada ser humano traz dentro de si, lembranças boas ou tristes que estão vinculadas diretamente ou indiretamente (consciente ou inconscientemente) há algum tipo de música.
Segundo Costa (1989), a música reforça a identidade e o auto-conceito; altera o estado de ânimo do paciente; auxilia o paciente a lembrar de eventos significativos do seu passado; promove a expressão não verbal de sentimentos, inclusive inconscientes; favorece a fantasia.

FONTE: COSTA, C.M. O despertar para o outro - musicoterapia. São Paulo, Summus, 1989. In: www.musicaeadoração.com.br acesso em: 13/09/2010.

Sofrimento Mental: doença mental




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O doente mental ainda é representado pela maioria da população, como também por profissionais e estudantes da área de saúde, como um “outro” perigoso, um ser “fora de si”, irresponsável, incapaz ou bizarro. As representações sociais associam
tais comportamentos à incapacidade social, à impossibilidade de estabelecer trocas sociais. Portanto, as nossas concepções de como cuidar do doente mental devem passar necessariamente pelo reconhecimento do significado social da doença mental e
do valor simbólico da loucura (OLIVEIRA, 2007, p. 3).
A convivência com os usuários deixou claro também que é frágil e delicada a linha que nos separa da loucura.
Postula-se que a linha, ao invés de separar, isolar e excluir, como historicamente tem sido essa prática, pode ser usada para conectar, unir. A reforma psiquiátrica brasileira busca modificar a relação da sociedade com as pessoas que sofrem de transtornos mentais, formando redes de solidariedade que favoreçam a construção de uma sociedade mais livre e tolerante.
A universidade através de suas ações extensionistas tem uma função importante nesse processo de construção de um novo espaço social para sujeitos psiquiatrizados. O conhecimento produzido deve ser colocado a serviço de uma sociedade mais justa, com menos desigualdade social e mais saudável. A residência terapêutica ora
discutida caminha nessa direção, como atividade de extensão busca contribuir para a construção da cidadania, a reabilitação, a autonomia e a inclusão social.
Faz-se necessário estabelecer uma aliança com a sociedade para desconstruir o estigma que secularmente acompanha o doente mental, tido como ser incapaz, perigoso, não sociável. Essa aliança vem sendo estabelecida
pelos profissionais do CAPS de Cajazeiras, mas precisa ser mais efetiva, com ações permanentes, só assim, será possível a construção de espaços em que convivam iguais e diferentes, singulares e plurais, como é a proposta
das residências terapêuticas.
As residências terapêuticas devem ser de natureza pública e estarem integradas à rede dos SUS. O suporte de caráter interdisciplinar deve ser o CAPS, nos municípios que estejam em funcionamento esse serviço. O acompanhamento deve ser sistemático, com suporte profissional competente e sensível levando-se em consideração às demandas de cada um, ou seja, a singularidade de cada um dos moradores. O número de
usuários da residência pode variar de 1 (uma) até no máximo 8 (oito) pessoas. A equipe deve ser constituída no mínimo pelos seguintes profissionais: um profissional de nível superior da área de saúde com formação,
especialidade ou experiência na área de saúde mental; 02 profissionais de nível médio com experiência e/ou capacitação específica em reabilitação psicossocial (BRASIL, 2004; BRASIL, 2005).

Fonte: BRASIL, M. S. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Residências terapêuticas: o que são, para que servem.
Brasília, 2004;
BRASIL, M. S. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma
Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de
Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.

OLIVEIRA, F. B. de. Construindo saberes e práticas em saúde mental. João Pessoa: Editora da UFPB, 2002.
OLIVEIRA, F. B.; SILVA, K. M. D. Concepções sobre a prática da enfermeira nos Centros de Atenção
Psicossociais. In: II CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE FEDRAL DE
CAMPINA GRANDE, 1., 2005, Campina Grande.
OLIVERIA, F. B. Doença mental e (re)integração social: uma relação possível? Projeto PIBIC/CNPq/UFCG.
2007. 16p.

Reabilitação : USUÁRIOS X FAMILIARES


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Reabilitação

O processo de reabilitação psicossocial busca de modo especial a inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da comunidade. Desse modo, a inserção em um SRT é o início de um longo processo de reabilitação que deverá buscar a progressiva inclusão social do morador.
Melman (2001), e Oliveira e Silva (2005) destacam que é fundamental a participação da família no tratamento
do usuário em saúde mental, uma vez que esta nem sempre está preparada para lidar com o parente com
transtorno mental, sente carência de informação qualificada e, muitas vezes, sente-se obrigada a dedicar grande
parte do seu cotidiano para o cuidado ao mesmo. Os delírios, as alucinações e os comportamentos estranhos
desestruturam as formas da família tratar o doente, que por sua vez sente-se frustrado, triste e com medo. A
culpa também passa a fazer parte do cenário familiar, que busca explicações em erros do passado para amenizar
seu sofrimento.
Os contatos com os usuários revelaram que o sofrimento e a dor fazem parte de suas vidas cotidianas. Vidas
marcadas por perdas (de amores, trabalho, amigos), desencontros, fragilidades, rupturas de vínculos familiares
permeadas pela não aceitação, rejeição e brigas no cotidiano, levando a uma situação estressante e
progressivamente insustentável, culminando com a exclusão da pessoa com transtorno mental e/ou sofrimento
psicossocial.

Fonte: MELMAN, J. Família e doença mental: repensando a relação entre profissionais de saúde e familiares. São Paulo: Escrituras Editora, 2001 (Coleção Ensaios Transversais).

COMO SE MEDE UMA PESSOA



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Como se mede uma pessoa?


Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento.
Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado.
É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.
Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto.
É pequena quando desvia do assunto.
Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições?
Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.
É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos.
Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações.
Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.
Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande.
É a sua sensibilidade sem tamanho.
Martha Medeiros

A SAÚDE MENTAL AGRADECE


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Como se mede uma pessoa?


Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento.
Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado.
É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade.
Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto.
É pequena quando desvia do assunto.
Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês.
Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições?
Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo.
É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos.
Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações.
Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma.
O egoísmo unifica os insignificantes.
Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande.
É a sua sensibilidade sem tamanho.
Martha Medeiros

Dia Municipal de Saúde Mental: Quinta feira dia 14/10/2010


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Será um dia de festividades em comemoração do Dia Mundial de Saúde Mental comemorado neste domingo passado 10 de outubro. O CAPS de Picuí está com uma agenda bem diversificada, confira nesta segunda:
11/12/2010 segunda: Palestra com membros do Conselho da criança e do adolescente de Picui; tarde oficinas, dinâmicas e brincadeiras, ensaio do coral
quarta: Palestra com a Fisioterapêuta Silvia de Picuí, tarde oficinas, dinâmicas e brincadeiras, ensaio do coral;
quinta: palestra com o fisioterapêuta Glauco, oficina de beleza, corte, manicure e pedicure, ensaios do coral

EVENTO NOTURNO NO CENTRO DE CONVIVENCIA PEDRO TOMAZ DANTAS (QUIOSQUES)

Abertura do Dia municipal de Saúde mental com o Fantoche Patolino (usuário do CAPS);
Oficinas ministradas pelos usuários com participação da sociedade;
apresentação do Coral do CAPS e
finalizando " A mais bela Voz do CAPS"

sexta-feira : 15/10/2010 palestra com o Psiquiatra Dr.º Gil BRaz
oficinas e dinamicas

Total apoio da Prefeitura Municipal de Picuí, Prefeito Rubens Germano (BUBA), Secretaria Municipal de Saúde Maria Lúcia Dantas Xavier e Equipe multiprofissional do CAPS..

" Todo Homem tem o direito de mostrar o que Faz"
Luiz Garcia Dantas (usuário)

CAPS VISITA AO CEFET DE PICUI PB




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Considero que ao atender o usuário, os profissionais da saúde devem desenvolver um cuidar humanizado específico para cada ser singular. Deve, além disso, romper com o distanciamento e com os preconceitos, mantendo o compromisso e a ética. Esse compromisso deve ser construído a partir da cumplicidade dos profissionais com a vida individual do usuário. Vaitsman (1995) ressalta que o individuo como foco de qualquer ação interventora, deve ser reconhecido como lócus de singularidade que produz e define necessidades especificas, as quais devem ser ouvidas e respeitadas. Assim, o acolhimento expressa-se na atenção dispensada, na capacidade de ouvir, na valorização das queixas e na identificação das necessidades dos usuários.
Nesta perspectiva, Pessini e Barchifontaine (2002, p. 231) destacam que a singularidade encontra-se inserida na autonomia do usuário. Deve, portanto, ser respeitada a sua identidade, sua opinião e a liberdade de decidir o que é melhor para a sua vida. Os autores acrescentam ainda que o exercício da autonomia requer “trato e cuidado, coisas que a comunicação e o diálogo podem fornecer, pelo fato de trazerem à tona todos os tipos de influencia desconhecidas e desconsideradas sobre as escolhas a serem feitas.
Conforme destacam Andrade e Inojosa (2004), que o enfermeiro deve reconhecer o ser humano que está sob os seus cuidados, acolhê-lo como sujeito de desejos e de direitos, tanto na perspectiva da atenção individual como na coletiva, agindo solidariamente. Nesse sentido, deve ter flexibilidade e singularidade para olhar as situações do cotidiano dos usuários, ouvindo-os e orientando-os quando se fizer necessário.
A acolhida dos usuários no CAPS, nas ESFs e em toda rede municipal de saúde, deve ser cordial e compreensiva para que se sintam valorizados e à vontade para expressarem seus desejos e vontades, buscando garantir a adesão ao serviço, que deve ser permanentemente acessível. Alguns usuários podem sentir dificuldade em se adequar aos horários de atendimentos e de agendamento. Para solucionar esse problema, o serviço de saúde deve construir mecanismos de organização mais flexíveis. Vale lembrar que toda a equipe de saúde, deve estar envolvida neste acolhimento e ser capacitada para o seu adequado exercício. Conforme ressalta Miranda (2003), o enfermeiro deve extrapolar a objetividade e ampliar as ações humanizadas da enfermagem por meio da vivência profissional aliada à sensibilidade e ao senso de solidariedade, aproximando-se cada vez mais do usuário em sua individualidade.
Mezomo (2001) enfatiza que os usuários, normalmente, necessitam de sinceras relações afetivas tanto por parte de seus familiares, quanto dos profissionais que lhes prestam cuidados. Com base nestas informações, para que o acolhimento ocorra na sua plenitude, o enfermeiro deve expressar sensibilidade, demonstrada por posturas, gestos e toques, entre outros. Neste contexto, durante o acolhimento, o enfermeiro e toda a equipe de profissionais devem entender as necessidades expressadas pelos usuários e responder a elas de forma adequada.

acolhimento reforma psiquiátrica/participação popular


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Quando falamos em saúde mental logo nos remetemos à reforma psiquiátrica, portanto, devemos ter o cuidado de repensar e refletir sobre as nossas práticas de como lidar com o usuário com sofrimento mental, não basta abrir serviços, expandir a rede, se no cotidiano dos serviços de saúde não acontece o acolhimento de forma ampla como forma de humanizar e estreitar a relação profissional/usuário.
O movimento pela Reforma Psiquiátrica tem início no Brasil no final dos anos setenta. Este movimento tinha como bandeira a luta pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O que implicava na superação do modelo anterior, o qual não mais satisfazia a sociedade. (MESQUITA, 2008).
A Reforma Psiquiátrica no Brasil deve ser entendida como um processo político e social complexo, tendo em vista, ser o mesmo uma combinação de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades; no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. (BRASIL, 2005).
Para GONÇALVES (2001), nos últimos cinqüenta anos, em vários países do ocidente ocorreram importantes mudanças na trajetória das políticas de atenção à saúde mental. Tais mudanças desaguaram no movimento de Reforma Psiquiátrica que destaca como principal bandeira, o resgate da cidadania do louco e, por conseguinte, a reconstrução de novos paradigmas teórico-práticos.
Isto implica dizer que, o campo da saúde mental vem experimentando transformações nas práticas assistenciais terapêuticas retirando o eixo de tratamento baseado na estrutura asilar, para a implantação de serviços comunitários, com uma atenção voltada para a reabilitação e a inclusão social das pessoas portadoras de transtornos psíquicos. Tal desafio implica mudanças nas concepções sobre a loucura, a doença e conseqüentemente, sobre o tratamento e a reabilitação. (idem).
Em 1986, a VIII conferencia Nacional de Saúde deliberou pela necessidade de um sistema Único de Saúde, proposta na constituição de 1988, paralelamente, o movimento dos trabalhadores em saúde mental, trouxe além de ecos dos movimentos internacionais, a discussão de reforma.(idem).
Posteriormente, o projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (1990), quem em entre outras medidas previa a extinção progressiva dos hospitais dos psiquiátricos e sua substituição por outros serviços assistenciais denominados de Núcleos de Atenção Psicossocial – NAPS, e Centros de Atenção Psicossocial – CAPS. (idem).
Pensando nisso, nas reuniões da equipe técnica sempre abordei o tema acolhimento, e conforme foi criando o desejo e a curiosidade de saber mais acerca do tema. Realizamos uma reunião especifica sobre acolhimento, utilizei o texto: “ O acolhimento e os processos de trabalho em saúde : o caso Betim, Minas Gerais, Brasil. Merhy, 1999.
Como recurso textual, o tema serviu de embasamento para o desenvolvimento do debate, onde foi possível através da percepção, registrar aqui algumas falas importantes dos profissionais.
Muitas práticas desenvolvidas no CAPS I traduzem mudanças necessárias ao novo modelo de assistência em saúde mental como por ex.: o trabalho é desenvolvido a partir da forma de acolher, de cuidar, de olhar e de sentir o sofrimento psíquico dos portadores de transtornos mental, assistidos no serviço o que tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos mesmos, melhoria da auto-estima , de sua autonomia. Foram identificados alguns entraves como por ex.: a falta de perfil de alguns profissionais que não se identificam com esse serviço, devido a sua formação estritamente técnica ou por desempenhar o papel de profissional assistencialista, alguns dos profissionais da equipe não se identificaram com a temática e relataram que não se identificam com o serviço. Contrapondo-se ao modelo biomédico atual, os profissionais do CAPS, não utilizam fardamentos, nem qualquer tipo de distintivo, as refeições são realizadas ao mesmo tempo e no mesmo refeitório com a utilização de objetos comuns em qualquer residência, o cardápio é diferenciado por ocasião de dieta alimentar; os espaços físicos da instituição são comuns a todos, o acesso aos cômodos, assim como outros assuntos são discutidos e decididos de comum acordo. O trabalho em saúde mental é um serviço/assistência que requer identificação e vinculação dos profissionais ao mesmo, é um serviço onde se trabalha muito a subjetividade e a singularidade de cada usuários, onde os profissionais utilizam mais tecnologias leves como ferramenta promovedora de vínculo e responsabilização. Conforme cita Merhy (2002, p.189), destacamos as tecnologias leves, quais sejam, o acolhimento, a produção de vínculo, a autonomização e a gestão compartilhada de processos de trabalho, como orientadoras das práticas em serviços de Saúde, tendo como enfoque a qualidade de vida dos cidadãos usuários do Sistema de Saúde. Somente será possível uma assistência de melhor qualidade se houver uma mudança significativa tanto nas relações entre profissionais e usuários. Segundo os profissionais do CAPS, o acolhimento perpassa a recepção acolhedora que os usuários recebem no momento de chegada ao CAPS, e se constituem numa ferramenta transformadora das práticas assistenciais do todo e qualquer profissional comprometido com a qualidade de vida de seus clientes. Acredita-se que, a partir do acolhimento é possível criar um vinculo afetivo de respeito, cuidado e responsabilização de suas próprias vidas, aumentando a confiabilidade entre ambas as partes.

acolhimento na UBS da zona rural



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Nossa visita aconteceu, em companhia da Enfermeira Karoline especializanda do Curso de questão de sistema e serviços de saúde da UFPB de João Pessoa, que foi solicitada juntamente com a nossa equipe para a realização de uma visita. Ao chegarmos às instalações da referida UBS, realizamos a leitura de um texto sobre EPS, e após a discussão identificamos alguns nós críticos na saúde mental local: alguns usuários com transtornos mentais sem utilizar o serviço do CAPS, e a dispensação de receitas controladas pelo médico sem nenhuma ênfase sobre o uso dos psicotrópicos, efeitos colaterais e posologia, dentre outros problemas que não citarei aqui. A partir do diagnóstico dos possíveis usuários do CAPS traçamos uma estratégia juntamente com os ACS e a equipe para tornar viável a presença dos usuários no CAPS para posterior triagem e inclusão dos mesmos no serviço, posteriormente a construção dos projetos terapêuticos individuais de cada um deles.
Graças à parceria da Enfermeira Karoline que trabalha no seu TCC a EPS (Educação Permanente em Saúde) juntamente com o CAPS realizamos essa interação através da articulação com a atenção básica, a partir de reuniões com a secretária municipal de Saúde, conseguimos adquirir um veículo para transportar os usuários do Distrito de Santa Luzia até o CAPS.
Atualmente, já foram feitas as triagem e os usuários com transtornos mentais do destrito de Santa Luzia, freqüentam semanalmente o CAPS de Picuí-PB, tudo isso graças a interação da equipe com os PSFs, UBS, e outras secretarias, temos uma boa comunicação com as secretarias, alguns projetos com a secretaria Municipal de Educação (EJA), com a secretaria de infra-estrutura e agricultura, Projeto cuidando das hortas (parceira com as duas secretarias e com o IFPB). Graças à temática do acolhimento, estamos contribuindo para a transformação no olhar de quem faz saúde mental e na mudança do modelo assistencial em vigor.
Conforme relata Silveira (2004), a estratégia do acolhimento resgata a comunicação entre os profissionais de saúde e usuários possibilitando também, muitos ganhos para os profissionais de enfermagem, “que passam a se reposicionar dentro do processo de trabalho utilizando seus conhecimentos, experiências e habilidades na assistência direta ao usuário, contribuindo para aumentar a resolutividade da equipe como um todo. Durante o acolhimento, os profissionais saem de uma atividade “as vezes burocrática, para uma atitude mais propositiva.”

BOA NOITE CAPS: uma questão de acolhida


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Trata-se de um momento impar realizado no dia 29 de agosto deste ano, no qual no centro de convivência Pedro Tomaz Dantas, após duas semanas de divulgação nos veículos de comunicação (rádio e panfletos), a sociedade compareceu em massa para prestigiar o evento. O Boa noite CAPS aconteceu com a seguinte programação: abertura com música de acolhida aos participantes, um breve momento de esclarecimento sobre “acolhimento” suas principais função na rede municipal de saúde e posteriormente um momento de reflexão sobre SUS e nosso comportamento enquanto cidadãos usuários do desse sistema singular. A equipe de pronunciou algumas vezes, em seguida a população em geral seguida de alguns usuários. Foi um momento de partilha, de troca de saberes, de esclarecimentos, de perguntas acerca do tema, como se dá o acolhimento em João Pessoa-PB. Enfim, uma noite de contato com a sociedade, onde profissionais e usuários interagiram de forma simples e objetiva provocando um desejo de implantar o acolhimento no serviço de saúde municipal, essa foi a percepção e o sentimento que mais me marcou o boa noite CAPS.
Após depoimentos de alguns usuários do serviço de saúde municipal e de uma ACS (mãe de uma criança portadora de necessidades especiais), todos foram unânimes que não somente o CAPS, mas toda a rede municipal de saúde necessita de uma intervenção dessa magnitude; pois, ferramentas a respeito do acolhimento, da escuta qualificada, sala de situação, dentre outras, são instrumentos estruturantes de uma nova política de inclusão e resolutividade no SUS local, estadual e federal. Apesar das intervenções realizadas em alguns UBS e no CAPS ficou claro que o processo de transformação e mudança ainda é um processo novo e inacabado, que necessita ser estudado, debatido, monitorado sempre com muito afinco, responsabilidade e muita propriedade. Para o público também ficou claro que existem profissionais que não conseguem trabalhar o acolhimento e portanto oferecer informações e uma assistência mais qualificada aos usuários, visto que, o acolhimento constitui-se como um leque de opções que devem ser ofertadas pelo pessoal responsável pela recepção nas UBS, EFSs e serviços hospitalares, quando o acolhimento não lhes é oferecido como na forma de assistência e informação o serviço e o usuário são prejudicados. Conforme relata Merhy (1999), o acolhimento propõe inverter a lógica organizacional e o funcionamento do serviço de saúde, partindo dos seguintes princípios: Atender a todas as pessoas que procuram os serviços de saúde, garantindo a acessibilidade universal. Assim, o serviço de saúde assume a função precípua, a de acolher, escutar e dar uma resposta positiva, capaz de resolver os problemas de saúde da população.
O término do evento boa noite CAPS aconteceu com uma dinâmica, onde utilizei bexigas (balões vazios com pequenos pedaços de papel com palavras sobre o acolhimento, e um pedaço de cordão barbante), após encher essas bexigas, as pessoas foram motivadas a estourar as bexigas e a falarem sobre a palavra contida no papel, após as falas de cada pessoas, cada uma delas amarrava o seu pedaço de barbante noutro barbante e assim formamos um grande circulo/roda que a denominamos de roda do acolhimento.
O acolhimento é visto como uma perspectiva essencialmente comunicacional, que entende ser a conversa principal atividade de um serviço de saúde. Assim, o funcionamento satisfatório do acolhimento depende da recepção do usuário no serviço, entendida como um espaço de “investigação, elaboração, negociação das necessidades que podem vir a ser satisfeitas.” (UERJ, 2003 p. 102). A comunicação constitui-se em um elemento fundamental para o acolhimento. A dificuldade de se comunicar com os usuários e de tratá-los como sujeitos com desejos, crenças e temores, tem sido a causa de inúmeros fracassos na relação entre profissionais de saúde e o ser usuário. (UERJ, 2003).
Para Selli (2003), para ser eficaz, a comunicação requer que tanto o usuário quanto profissional; ambos sejam capazes de captar a mensagem verbal e não-verbal. Segundo esclarece, são muitas as maneiras de se comunicar: a fala, o olhar, o gesto, o silencio e o sorriso caracteriza o que queremos dizer ao outro.
Sobre a aplicabilidade do acolhimento ora como ferramenta ora como instrumento de mudanças, sensibilização. Posso relatar a percepção dos usuários de psicotrópicos que não possuem perfil de CAPS, isto é, que recebem a medicação e retornam para suas residências, são pessoas portadoras de transtornos mentais leves, anterior a especialização e aos debates sobre acolhimento, a dispensação de medicação psicotrópica era entregue aos familiares e o contato desses usuários era apenas com os profissionais médicos para dispensação da receita e consulta de alguma outra patologia.
Após, a implantação do acolhimento no CAPS, tornou-se possível um dialogo acompanhado de uma significativa participação dos usuários e seus familiares com a equipe do CAPS e os usuários do CAPS, gerando uma maior confiabilidade no serviço, estreitando laços; propiciando interação e promoção de da saúde dos mesmos, a partir desse momento de diálogo e debate de temas especifico sobre saúde de fácil assimilação. No âmbito municipal, foi possível sentar com a equipe da ESF do destrito de Santa Luzia e debater sobre acolhimento e EPS, promovendo um momento de capacitação, sensibilização, escuta, dialogo e diagnóstico dos principais entraves relacionado a saúde mental daquela região situada na zona rural.